Bilhetes para este primeiro dia eram um bem precioso procurado em desespero às portas do recinto. No inicio desta semana Álvaro Covões tinha explicado à imprensa que actualmente a organização assume que há sempre um concerto mais desejado em todo o festival. Em anos anteriores tinham sido os Radiohead e os Arctic Monkeys ; este ano essa responsabilidade coube aos Muse. A lotação esgotada aprovou a escolha da banda de inglesa.
Apesar de ser uma quinta-feira, o recinto lotado precocemente notou-se pela romaria às primeiras filas do palco maior e pelas T-shirts que a maioria estava ali para ver e rever Muse. Muitos ingleses e espanhóis, como é hábito, misturados com outras nacionalidades não tão facilmente identificadas. De ano para ano nota-se cada vez mais que as pessoas vão ao festival para preencher apetites sociais, mais do que absorver tudo o que vem dos palcos - conversas cruzadas que tornam a escuta cada vez mais dificultada da música.
Há uma tendência em crescendo entre os festivaleiros portugueses: eles e elas optam por trazer cachecóis e camisolas dos seus clubes de futebol do coração. Natural destaque para as cores das três equipas com mais adeptos por cá.
Um fenómeno que pôde ser comprovado por quem viu confortavelmente em casa o concerto mais esperado da noite transmitido em directo pela RTP. Uma cobertura que ganha uma nova dimensão este ano aproximando via smartphone quem está no recinto e quem segue em casa.
Musicalmente falando, esta não foi uma noite de revelações ou surpresas. O cancelamento de Jessie Ware criou alguma desilusão mas abriu espaço para uma boa aposta nacional, os Capitão Fausto agradeceram a repescagem de última hora e voltaram a triunfar num espaço que já conheciam da edição de 2013.
No palco Heineken ao final da tarde, e antes dos portugueses Capitão Fausto, os escoceses Young Fathers marcaram pontos e viram os singles «Sham» e «Rain or Shine» serem entoados por uma plateia atenta embora ainda longe das enchentes da noite.
Foram os britânicos Metronomy os primeiros desta edição do Alive a encherem as medidas da grande tenda do palco Heineken. Com o disco «Love Letters» ainda a ressoar e uma passagem por vários temas acolhidos em festa, com muitos olhares fixados na baterista Anna Prior.
Mais tarde os Django Django regressam a um palco onde já foram tão felizes mas já sem a frescura da estreia e a lutarem contra a tentação de muitos festivaleiros abandonarem o recinto depois de Muse.
Mesmo assim foram muitos os que resistiram até depois das 3 da manhã para dançar ao som do australiano Flume, como se viu na passagem de «Some Minds».
As atenções andaram sempre mais viradas para o lado das tendas do recinto porque no palco maior a oferta musical até às 22h30 era pouco mais do que irrelevante. Os The Wombats de Liverpool passaram despercebidos à luz forte do dia embora o single «Greek Tragedy» tenha sido identificado à distância. Depois James Bay já concentrou alguns fãs e muitos curiosos satisfeitos com o sucesso «Hold Back The River».
Ben Harper & The Innocent Criminals em 2015 no palco principal do Alive é tão irrelevante que nem mesmo um veraneante «Steal My Kisses» justifica tal presença. A indiferença da plateia não mente.
Terminemos com as duas apostas para os momentos altos da noite no palco NOS. Quanto aos Muse não havia dúvidas que seriam os reis da noite, e talvez até de todo o festival, arrastando a multidão que cedo esgotou os bilhetes para este dia.
Já quanto à promoção dos Alt-J para o espaço maior do Alive esteve longe de ser unânime. Recordemos que a banda de Leeds deu um concerto inesquecível na tenda Heineken na altura certa quando o disco de estreia estava entre os melhores de 2012 para a frente. «This is All Yours» seguiu-se em 2014 esteve longe de causar o mesmo impacto. Em palco os Alt-J não parecem confortáveis em tão grandes dimensões e a plateia ansiosa pelos Muse também só acompanha os temas mais conhecidos nas primeiras filas. Teria sido melhor para banda e fãs a repetição no palco Heineken, como aconteceu com os Django Django, mas perante tanto anonimato até aquela hora no palco principal até devem ter ganho alguns fãs menos atentos.
Os Muse cumpriram tudo o que prometiam. Desfile de canções que já são hinos espalhados pela sua discografia iniciada em 1999 embora com passagens menos eufóricas pelas novas músicas de «Drones», excepção feita ao arranque épico e em força com «Psycho».
Uma hora e meia sem grandes exuberâncias cénicas - não se viram drones, por exemplo. A recta final foi a mais efusiva com lançamento de balões gigantes pela plateia e chuva de papelinhos e fitas vermelhas e brancas ao som de «Mercy», «Time is Running Out» ou «Reappers».
A par de Coldplay e Radiohead, os Muse são das raras bandas da escola dos 90 que podem apontar para mega produções de estádio. Trabalham para grandes multidões e não desiludem. Terão assinado o concerto mais aguardado deste NOS Alive.