Comecemos por uma sugestão: para quem ainda não entrou no espaço da exposição de fotografias organizado por Rita Carmo numa sala do Pavilhão de Portugal. São 10 minutos bem empregues para ver, descobrir ou relembrar imagens de bandas que passaram por este evento desde 1995, fotos da autoria da organizadora e outros artistas que ilustram uma viagem que nos arrancam sorrisos de nostalgia. A não perder.
Neste segundo dia sentimos muito mais movimento no espaço entre o MEO Arena e o Pavilhão de Portugal, sinal que os festivaleiros quiseram mesmo viver as propostas espalhadas pelo recinto. O ambiente continua a ser algo estranho, entre muitas jovens de calções curtos da moda, alguns turistas e gente com ar descontraído de férias, também há muito boa gente com traje de trabalho e que opta por nem mudar de roupa já que o ambiente é urbano.
O que mais pode pedir um festival do que um concerto surpreendentemente bom, daqueles que marca todo o evento?
A edição 2015 do SBSR ficará conhecida como aquela que revelou Benjamin Clementine num fim de tarde debaixo da pala à beira Tejo. Neste local já tínhamos apontado a acústica como o maior problema para as bandas que por ali têm passado, até que chegou o londrino Benjamin Sainte-Clementine. Sentado ao piano e acompanhado por um discreto trio, deu voz (e que voz!) e alma às canções de «At Least For Now». Momentos tão épicos de melodias carregadas de sentimento e entrega que só podemos dizer que quem viu jamais esquecerá, quem não viu bem se pode arrepender. Se o Palco EDP foi pensado para um concerto deste envolvimento, então foi uma aposta mais do que ganha. Que momento arrebatador, esta passagem de Benjamin pelo Parque das Nações! A pedir um urgente regresso em nome próprio.
Mais tarde, já de noite, outra música vinda de Londres também triunfava no mesmo espaço. Ironicamente, depois da tranquilidade sonora de Clementine ter caído ali na perfeição, o ruído nervoso das Savages também se adequou ao espaço quase fechado do Palco EDP. Jehnny Beth liderou mais uma grande actuação entre nós, ainda com «Silence Yourself» a render. As Savages deram sentido ao conceito Super Rock.
Entre a emoção de Benjamin e a agitação das Savages, houve descontracção pop com Adam Bainbridge e o seu alter-ego Kindness muito bem recebido por uma generosa plateia.
Um dia em cheio para o Palco EDP que terminou com mais um bom concerto, os Bombay Bicycle Club fizeram o pleno de britânicos a triunfar ali bem perto do Casino e do Oceanário.
No outro lado do recinto há boas novas para a música portuguesa. O palco da Antena 3 tem estado sempre bem composto de público conhecedor das propostas que por lá passam. Também avistámos muitos músicos a assistirem aos concertos dos seus companheiros de luta, o que proporciona até momentos de colaboração como se viu ontem com Moullinex a subir ao palco dos portuenses Best Youth. Além dos temas do recomendável EP «Highway Moon», houve uma versão bem mexida para «My Moon My Man» de Feist.
Os White Haus abriram a noite no sempre incómodo horário em que ainda não há muito movimento naquela parte do recinto mas cumpriram, enquanto que Teresa Freitas de Sousa aproveitou a excelente recepção que o seu projecto estava a ter e surpreendeu todos com uma fuga do palco até à torre do stand do patrocinador mais próximo para se atirar de uma plataforma alta e cair num gigante colchão insuflado. Um sucesso a passagem de Da Chick.
Em português continuamos para falar da mediática reunião de Sérgio Godinho e Jorge Palma no MEO Arena. A expectativa era grande mas as bancadas vazias não ajudaram a criar o ambiente que se pretendia de consagração. Percorrendo o repertório de ambos, conseguiram entusiasmar a espaços a plateia mas não houve o factor surpresa ou improviso que gerasse mais entusiasmo. Foi o que se esperava e isso já é dizer muito destas duas figuras incontornáveis da história da música portuguesa.
Antes, no MEO Arena, os The Drums trouxeram-nos o seu rock de Brooklyn já com propostas do recente «Encyclopedia». Pouco fãs na plateia dançaram mas a sala vazia não trouxe grande contágio à actuação que sugeria «Let´s Go Surfing». Não aconteceu mesmo porque o rio Tejo não tem ondas.
Bem mais composto esteve o espaço para receber os belgas mais norte americanos que conhecemos. E já nos conhecemos há duas décadas. Nunca vimos um mau concerto dos dEUS e também não foi desta que tal aconteceu. Um alinhamento que visita a sua discografia desde os primeiros passos e que parece sempre deixar de fora uma outra canção que os fãs não esquecem. Tiveram a plateia menos rendida da sua longa história de passagens por Portugal, a maioria já só queria Damon Albarn.
Os Blur chegaram, viram, venceram e já estão a caminho de Espanha. Assinaram sem dificuldade o melhor concerto do festival com uma construção perfeita de alinhamento que equilibrou as músicas do novo «The Magic Whip» com todos os clássicos dos outros sete álbuns.
O palco mais vistoso de todas as visitas a Portugal com adereços que ilustram a capa do mais recente álbum, a entrega habitual de Damon Albarn que visitou várias vezes os fãs das primeiras filas e teve o ponto alto quando levou para o palco o jovem João. Um fã que teve o privilégio de cantar e pular com Damon na contagiante «Parklife». Ao concerto não faltou nenhum dos grandes hino da Britpop e até deixou a sensação que muita gente ficou saciada bem antes do final do concerto com «Song 2». Depois desse shot pop vimos uma assinalável debandada.
Os Blur estão em grande forma e dão sentido a esta nova vida de estrada. Curiosamente, o ponto mais alto deste festival não teve mais do que meio pavilhão preenchido.
Florence Welch tem a palavra.