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Grandes Sons

Um pouco de música todos os dias. Ao vivo, em vídeo, discos, singles, notícias, fotos. Tudo à volta do rock e derivados.

Grandes Sons

Suede no Coliseu dos Recreios: Ressurreição para poucos crentes

Literalmente do nada os Suede arrancaram um concerto mágico que transformou um despido Coliseu numa sala alegre com bilhete até 1993. Brett Anderson está bem vivo e a banda reclama o seu estatuto de forma convincente.

Nada jogava a favor dos Suede, convenhamos. Os concertos anteriores em solo português não deixaram grandes saudades, a última passagem no Optimus Primavera Sound foi discreta, a banda nunca mais recuperou o fôlego com que atravessou a década de 90, os êxitos perderam-se no tempo, o novo disco, não sendo mau, não muda o mundo a favor deles e os fãs de há vinte anos já estão com outras preocupações na vida numa quinta feira à noite de 2013.

 

Assim sendo , não se esperava uma enchente no Coliseu mas também não era previsivel tão pouca afluência. Minutos antes dos londrinos entrarem em palco o ambiente na sala era desolador. Bancadas tapadas por panos pretos a vedar passagem ao público e na plateia nem metade do espaço estava preenchido.

 

Olhámos antes para os alinhamentos dos recentes concertos dos Suede e reparámos que as canções mudam todas as noites. Acreditamos que as músicas sejam escolhidas em função do público que enfrentam e só podemos elogiar a escolha das dezanove canções para Lisboa. Parece ter sido uma resposta sincera à fraca venda de bilhetes, brindar os que ainda investem na banda com um grande concerto em vez de despachar em formato de frete.

 

Brett Anderson está numa excelente forma vocal e física. Diverte-se com a sua música, andou a cantar no meio da plateia, tirou fotos com os fãs, foi abrindo a sua camisa preta à medida que avançava a noite e até se ajoelhou à boca de palco em pose rock star que lhe fica muito bem.

Os primeiros quarenta minutos de concerto foram de arraso, incursões sem freios pelos discos de estreia (1993), «Dog Man Star» (1994), «Coming Up» (1996) e «Head Music» (1999) com destaque para os temas «Animal Nitrate», «Barriers», «Snowblind», «Pantomime Horse», com que arrancou a noite, «Trash» e «Animal Nitrate». Um autêntico best of que apanhou desprevenido até o público mais fiel à banda. Ali estava exibido aos olhos e ouvidos de todos o melhor que a chamada britpop deu ao mundo com o cunho muito pessoal das letras e poses de Brett Anderson.

Inteligentemente ignoraram o fraco disco de 2002, «A New Morning», e escolheram bem as canções do novo «Bloodsports» que até ganhou um novo fôlego após esta inesperada noite épica.

 

Um final de concerto com Brett Anderson a dar tudo nas históricas «So Young» e «Metal Mickey» a que se segue um encore que começa com uma versão desacelerada desse grande êxito pop esquecido chamado «She´s In Fashion» e um final apoteótico ao som de «Beautiful Ones», só pode merecer elogios e agradecimentos por muito tempo.

 

João Gonçalves

in Disco Digital



Foals no Coliseu dos Recreios: Visita de médico

Os Foals regressaram a Portugal após uma rápida passagem pelo Festival Optimus Alive há dois anos e com um novo estatuto a defender. Não motivaram casa cheia e despacharam a viagem pelos três discos editados em menos de uma hora e vinte minutos! Houve momentos gloriosos e outros nem tanto. Saem com nota positiva mas esperava-se mais.

A banda inglesa liderada por Yannis Philippakis anda a baralhar-nos as voltas desde 2008. Ao fim de três discos editados não é fácil prever o seu rumo nem perceber se são mais eficientes a construir canções épicas como «Spanish Sahara» do segundo disco, se são melhores a criar delirantes sonoridades tão bem representadas no disco de estreia ou se são simplesmente uma banda talhada para assinar hits imediatos como é o caso dos recentes «Inhaler» ou, principalmente, «My Number» só por si responsável pela presença e angariação de novos seguidores, isto acreditando nas conversas que fomos ouvindo nos corredores do Coliseu.

 

Este concerto não serviu para tirar nenhuma destas dúvidas porque o grupo faz mesmo questão de ir a todas e o alinhamento é composto democraticamente por temas dos três discos com a maior fatia a caber a «Holy Fire», naturalmente.

Os Foals funcionam bem em palco, conseguem carregar aquela densidade que se nota em estúdio em algumas canções mas perdem um pouco de força ( era preciso tirar mais daquela bateria ) noutros momentos. O melhor exemplo foi a forma fugaz com que passaram por «My Number», esperávamos mais ao vivo.

 

A sequência «Providence», «Late Night» (inevitável não nos lembrarmos do videoclip), «Milk & BlackSpiders» e a soberba «Spanish Sahara», colocou os Foals num patamar superior convencendo o público que ficou no ponto para receber uma das canções mais badaladas de 2013, «Inhaler». Aqui lembramo-nos de Jane's Addiction e até de Rage Against the Machine guiados pelo falsete irrepreensível de YannisPhilippakis.

 

Um dia depois de terem editado o DVD do concerto no Royal Albert Hall, os Foals passaram por Lisboa com o seu concerto a seguir à risca recentes alinhamentos, cumprindo promessas mas deixando algumas dúvidas no ar. Para onde caminham? Não sabemos mas ficámos com a experiência de um espectáculo onde os momentos interessantes e bons foram superiores às desilusões.

A relativa curta duração do alinhamento também não caiu bem.

 

 João Gonçalves
in Disco Digital

Fat Freddy´s Drop no Coliseu: O pássaro voou alto

O último concerto desta digressão europeia dos Fat Freddy's Drop foi uma enorme celebração em Lisboa e nem o facto de ter acontecido numa noite de segunda feira impediu casa cheia no Coliseu dos Recreios!

Já vem de longe a empatia entre o público português e esta banda da Nova Zelândia. Nunca os vimos dar um mau concerto e o entusiasmo na plateia parece estar sempre a aumentar à medida que avançam as visitas ao nosso país. O facto de terem conseguido manter sempre a qualidade a cada disco que lançam ajuda muito nesta saudável relação.

 

Esta noite vieram mostrar «Blackbird», álbum editado este ano e que originou uma digressão europeia com salas esgotadas. A última noite aconteceu em Lisboa e apesar de terem seguido o alinhamento já conhecido de outras noites estiveram muito empenhados em proporcionar um excelente concerto. Referiram várias vezes que era o último concerto da digressão, tiraram fotos com a plateia em fundo, chamaram técnicos ao palco agradeceram a todo o staff e , acima de tudo, divertiram-se em palco divertindo os seus fãs com um belo espectáculo.

 

O prato forte foi mesmo o novo disco, já completamente assimilado pelos seguidores da banda que receberam com entusiasmo as primeiras três canções da noite, «Blackbird», «Russia» e «Clean the House». Depois um regresso às origens com a recuperação de «Cay´s Crays» e o excelente «Roady», ambas do primeiro LP «Based on a True Story». A partir daí voltaram ao mais recente disco e por aí ficaram.

 

O segredo do sucesso dos Fat Freddy's Drop em palco está na atitude com que atacam cada tema dando-lhes uma dimensão ainda maior do que acontece em estúdio. A base reggae e dub está lá mas facilmente galopa para um cenário dançável com batidas hipnóticas que colocam o público em transe ao longo de demorados instrumentais que explodem em rituais de pulos com o teclado certo ou a secção poderosa de sopros onde brilha o sempre irreverente Hopepa.  É a mistura certa entre reggae, funk, jazz e techno que faz vibrar uma plateia dedicada à causa dos neozelandeses. Seja com a voz de comando de Joe Dukie, seja com a genica do MC Slave, uma espécie de oitavo elemento da família, seja só com instrumentais, todas as músicas têm um final feliz.

 

Foi a noite ideal para desfazer de vez esse mito urbano que diz que reggae e seus derivados é só para tempo de verão, sol, surf e praia. A noite era de outono e esta feliz mistura derivada de reggae/dub resultou na perfeição. Ainda passaram duas vezes por «Dr Boondigga and the Big BW», disco de 2009 e atingiram o auge com «Ernie» do primeiro LP numa versão irrepreensível.

 

É impensável que uma próxima digressão europeia não passe por cá. 

 

João Gonçalves

in Disco Digital

Prince no Coliseu dos Recreios: Abençoada sejas, Ana Moura!

 

 

O concerto mais inesperado do ano resultou no maior acontecimento rock de 2013 em Portugal. Prince desafiou e os fãs responderam em massa enchendo a sala do Coliseu de Lisboa. O músico saiu deliciado e o público viveu um dos concertos mais épicos das suas vidas.

 

Todo o contexto deste inesperado regresso a Portugal tem contornos de lenda. Prince aos 55 anos continua firme na sua atitude de trocar as voltas aos tentáculos da indústria da música, é ele que marca os seus concertos dispensando as tradicionais agências, dá-se ao luxo de fazer digressões temáticas, dígamos assim, em que ora desfila clássicos, como vimos no Meco, ora se atira a temas mais recentes e em versão rock de guitarras a soarem alto e fortes, como foi o caso desta noite.

 

Por outro lado há sempre o desafio à sua popularidade ao fim de tantos anos de carreira, recorde-se que o artista de Minneapolis deu o seu primeiro concerto por cá em 1993.

No auge do verão anunciar um concerto com dois dias (!) de antecedência e sem operação de marketing pesada é, no mínimo, ousado. Mas Prince está de bem com a vida, embora continue irritado com internetices e sem paciência para fotografias que são proibidas, está com a confiança em alta, está em excelente forma e só lhe apetece dar concertos à antiga. Quer mostrar que continua com uma presença de palco espectacular e vive um romance musical com as 3rdEyeGirl. Em troca só pede envolvimento da plateia. Quer flirts vocais com a ala feminina, quer resposta firme da ala masculina, improvisa longos coros em jeito de jam session com letra simples reduzida a "Portugal oh oh", pede luz acesa para ver bem a bonita enchente do Coliseu, pede acompanhamento de palmas, desafia o público a saltar, enfim é preciso energia para acompanhar o ritmo do pequeno grande génio.

 

A resposta da plateia esteve sempre à altura, ninguém estava ali por acaso. Durante quase uma hora de espera, claro que Prince fez-se esperar, faz parte do contexto mas foi uma espera digna nada a ver com o que Rihanna anda por aí a fazer, deu para perceber que a audiência no Coliseu era muito diversificada. Muitos corpos bronzeados, conversas sobre férias interrompidas para ver o ídolo, abordagem ao tema melgas a denunciar exposição ao sul, muitos turistas com ar deliciado com a oportunidade de ver o segundo nome mais desejado em palco segundo um artigo recente da Rolling Stone, muito cabelos brancos, caras conhecidas e também alguma juventude. No recinto também houve diferenças, em frente ao palco em vez de fotógrafos havia um espaço privilegiado para "VIP's", onde era impossível não reparar na presença da cabeleira loura de Lili Caneças.

 

Prince está muito mais próximo da herança de Jimi Hendrix, visual capilar bem incluído, do que da linhagem pop de "Kiss". Movimenta-se enchendo todo o palco nunca atropelando as suas companheiras, alterna a pose guitar hero com a postura mais discreta nos teclados, olha bem fundo para plateia e bancadas sempre que carrega no falsete e , acima de tudo, mostra um gozo e prazer supremo em tudo o que faz. Não apresenta as canções, apenas as desfila em ritmo vertiginoso. Apesar de não haver "hits" óbvios reconhece-se com agrado o rock renascido de cinzas de blues, cá está Hendrix, de «Let's Go Crazy», «Endorphinmachine", «Screwdriver», «Guitar» ou «Cause and efect», entre outras que o leitor pode conferir na setlist publicada no fim do texto. Não houve momentos perdidos, não houve alturas de descanso. O ritmo foi alto e o corpo não resistia aquelas guitarras. Antes do encore havia uma sensação estranha e boa no ar, estávamos a ver Prince no seu melhor como naqueles relatos que lemos invejosos de aparições assim mas algures em Los Angeles ou Londres para plateias reduzidas a pagarem pequenas fortunas.

 

Quando já estávamos perfeitamente rendidos com hora e meia de espectáculo, Prince resolve tornar tudo ainda mais incrível e inesperado. Entre declarações de amor a Portugal e à sua (nossa) musa Ana Moura, acontece uma grandiosa versão de «Diamonds & Pearls» que foi uma autêntica explosão de adrenalina num ambiente agora infernal, pelo calor, suor e emoção, que se iria estender por mais uma hora com direito a «The Beautiful Ones», «Evenflow», «Ampler Set», a divertida «Funkroll» e os bombons finais «Nothing Compares 2 u» e «Purple Rain». Pelo meio vimos uma invasão de palco com espectadores resgatados na bancada lateral a dançarem incrédulos à volta de Prince, vimos o staff do músico em palco aos saltos e a puxar (ainda mais) pelo público, chuva de confetis e saídas de palco com regressos exigidos pelo público. Um festão que acabou bem depois da meia noite e que vai perdurar na memória de quem viu por muitos anos. Um daqueles concertos que no futuro vão soar a medalha de ouro para exibir aos amigos: «Eu estive lá".

 

(foto do instagram de Rui Leal)

Imagine Dragons no Coliseu dos Recreios: Noite de Santo Antão

Enorme romaria às Portas de Santo Antão para testemunhar a estreia dos Imagine Dragons em Portugal, Coliseu lisboeta esgotado e uma hora e meia que deixaram boas recordações a banda e fãs.

Quando estávamos perto do Coliseu no meio de uma incrível azáfama entre fãs e cidadãos que assistiam aos preparativos para a noite mais popular da capital um senhor polícia perguntou-nos se sabíamos quem eram os artistas responsáveis por tamanha agitação. Dissemos o nome da banda e desiludido encolheu os ombros dizendo não conhecer. Um casal adolescente ao nosso lado elucidou o agente da autoridade: «Oh senhor guarda, são aqueles do «Top of The World do anúncio dos telemóveis». Resultou num «Aaah, já sei».

Para a grande maioria dos fãs que hoje esgotaram a sala lisboeta é tremendamente injusto reduzir o grupo de Las Vegas ao tal anúncio mas não se pode negar que ajudou a sua música a chegar a todas as gerações.

 

Perante uma plateia maioritariamente adolescente mas com muitos crescidos e graúdos, principalmente nas filas de trás, Dan Reynolds liderou a banda com nome de jogo fantástico de consola a uma noite de glória. Não faltou a bandeira nacional em palco, balões gigantes na plateia, os elogios à comida e ao público que bem os mereceu ao viver o concerto em clima de euforia do principio ao fim.

 

Mais do que o grupo de «On Top of The World» os Imagine Dragons são os rapazes de «Radioactive», o momento alto da noite, que acabou em versão estendida com as cordas a serem trocadas por tambores e um sintetizador. Há também «It's Time» que é a raiz de todo este fenómeno de sucesso, foi o primeiro single a levar o grupo aos primeiros lugares de vendas e airplays de rádios. Foi também devidamente celebrado.

 

Pelo meio ficou uma balada a mais , uma versão de «Stand By Me» escusada, e tudo mais que «Night Visions», afinal o único álbum até agora editado, tem para oferecer. Num concerto que estava ganho à partida houve sincera entrega por parte da banda e o retorno foi, obviamente, caloroso. Estreia a prometer mais regressos.

No fim lá estava a tal música do anuncio a ser entoada rua fora. Agora também por quem não esteve na sala.

 

João Gonçalves


in Disco Digital

Mos Def no Coliseu dos Recreios: Com sentido

( do Instagram de José Mariño )

Fazer o que nunca foi feito, isto é, ter Mos Def em palco português e o músico conhecer os seus fãs portugueses foi o desafio proposto no Coliseu. Uma comunhão que aconteceu já de madrugada e com relativo sucesso. Para ambas as partes.

Desde que foi anunciada a vinda de Mos Def a Lisboa que os seus admiradores se mobilizaram e ficaram a saber aos poucos que o cartaz ia aumentar, empurrando a figura principal para mais tarde. Como é habitual nestas ocasiões as primeiras partes, que arrancaram às 22:00, arrastaram-se com a presença em palco dos portugueses Kilu e Groove4tet; mais tarde o brasileiro Emicida trouxe de São Paulo a força das suas rimas.

 

Faltava um quarto de hora para a uma da manhã quando Mos Def deu entrada no palco do Coliseu lisboeta. A curiosidade era muita quanto à adesão popular ao concerto. Pois bem, à hora em que a figura principal da noite iniciou a sua actuação a plateia estava bem composta mas muito longe de encher o recinto. Apontamos para meia casa, uma estimativa assim por cima. O entusiasmo dos que foram ajudaram a tornar a noite mais emotiva.

 

Mos Def, que agora se apresenta como Yasiin Bey, linguagem islâmica para riqueza de espírito, apresenta-se de maneira muito simples em palco. Calças brancas, camisa branca de manga curta e microfone personalizado. Traz consigo apenas uma comprida mesa onde dois DJ's disparam todos osbeats, samples e canções sobre as quais o homem de Brooklyn vai intervir. Estamos, portanto, em frente a dois DJ´s e um MC.

A boa notícia é que tudo o que é disparado pelas colunas, a nível melódico, é facilmente reconhecido pelo ouvido mais familiarizado com a obra editada de Mos Def.

 

Apesar de ter sido o álbum de 1999, «Black on the Both Sides», a colocar o rapper no mapa do cruzamento hip hop/Nu Soul , as canções mais apresentadas ao vivo são de discos mais recentes. Em destaque está «The Ecstatic», de 2009, de onde são tirados a maior parte dos temas. «Quiet Dog», «Auditorium» ou «Priority», por exemplo, são recebido em apoteose. Não tanto como «Ms Fat Booty», uma das poucas visitas ao tal álbum de estreia.

 

O controlo de Mos Def sobre os acontecimentos é total. Ele marca o andamento do alinhamento, aproveita para uns passos de samba em alguns instrumentais de ligação e mostrou-se comunicativo com a plateia. Além de referir estar contente com a estreia em Lisboa, meteu-se com uma fã que exibia uma cartolina a pedir que ele cantasse uma música para ela. Conseguiu captar a atenção do MC mas acabou por levar uma reprimenda, Dante Terrel Smith (verdadeiro nome do artista) explicou que ninguém lhe pede nada, ele só canta o que quer e o que lhe apetece. Ali quem mandava era ele e não estava receptivo a pedidos. Disse-o em tom bem disposto mas o recado foi percebido à primeira.

Houve clima, ouviram-se alguns clássicos, mas o avançar da hora não ajudava a grandes celebrações. Vimos muito boa gente a abandonar o recinto antes do fim lamentando o facto de faltarem poucas horas para acordarem e irem trabalhar.

 

Já para lá das duas e meia da manhã ficava encerrado este primeiro encontro de Mos Def com os portugueses. Mais do que um concerto inesquecível foi um acontecimento histórico. Fez sentido apesar a distância temporal entre a edição do primeiro disco e a chegada a palcos portugueses.

 

João Gonçalves

in Disco Digital

Mumford & Sons no Coliseu dos Recreios: Folk You!

Noite de enchente no Coliseu lisboeta para uma impressionante celebração da música dos Mumford & Sons. A banda só teve que aproveitar o ambiente de euforia para assinar um concerto competente sem grande esforço.

No momento em que temos no palco todos os Mumford & Sons acompanhados da dupla feminina californiana Deap Vally (que estiveram muito bem na actuação que antecedeu a entrada dos ingleses) a celebrarem uma versão de «Baby Don´t You Do It» popularizada por Marvin Gaye, sente-se que estamos perante uma noite especial e que aquele momento é dos mais altos deste concerto. No entanto seria injusto destacar momentos de uma noite que foi intensa da plateia até ao mais distante camarote desde a primeira nota da actuação. Todas as canções de «Sigh No More» e «Babel» apresentadas foram recebidas com o mesmo entusiasmo!

 

Há muito que estes londrinos deixaram de ser um segredo bem guardado da indie folk para invadirem as playlists mais comerciais do mundo. O salto foi grande e basta lembrar a sua passagem pelo último Optimus Alive e comparar com a noite de hoje para concluirmos que o culto aumentou e já está ao nível da euforia «beta».

A massificação do single «I Will Wait», as notícias de recentes conquistas de prémios importantes como o Grammy de melhor álbum ou o Brit Award para melhor banda britânica, só vieram aumentar a popularidade dos Mumford & Sons que por cá até já tinham o concerto esgotado há muito tempo.

 

Acertaram na fórmula a que se chamou de indie folk  e ao vivo sabem puxar as canções para o lado mais festivo criando uma fácil ligação com a plateia. Não reinventaram a roda, é certo, não vão passar deste registo e talvez até tenham o prazo de validade curto mas neste momento são um nome forte e importante da música actual. Estão a aproveitar bem o seu momento e proporcionam umas horas de puro entretimento aos seus seguidores. A festa foi bonita, o futuro pode esperar.

 

João Gonçalves

in Disco Digital

Jack White no Coliseu dos Recreios: Companhia algazarra

T: Davide Pinheiro F: Luís Martins - Disco Digital


Jack White foi igual a si próprio num concerto de reencontro do rock com o suor e do público com as salas, depois de uma época de fogos festivaleiros.

 

O primeiro concerto de Jack White em nome próprio, e apenas o segundo em Portugal, assinalou a rentrée da época de concertos, o regresso do calor e principalmente o reencontro com o bom velhinho rock que tão ausente tem andado das salas, arenas e mesmo dos festivais. 

White é um rocker à antiga desinstitucionalizado e despreocupado de filtros do Instagram. Na última noite do mês em que Lisboa foi invadida por um campeonato do mundo de turistas, deu aquilo que lhe era pedido. Sem mais nem menos. Canções rock de matriz clássica americana, com ligeiros assomos de estádio, mas defendidas por uma homogeneidade que torna indecifráveis as diferenças entre o repertório gravado a solo, os Dead Weather ou os Raconteurs. Dos White Stipes, a banda onde atingiu projecção global e estatuto de galáctico do rock, detecta-se outra grandiosidade mas nada que interfira com o todo.

Verdadeiramente, White não vem a solo porque o baterista que o acompanha é assombroso - a fazer lembrar o descontrolo rítmico de Kid«Congo» Powers - e a restante banda composta por personagens um pouco à imagem do líder: figuras com um estilo muito próprio e acidental como um baixista que podia ser vendedor de seguros no Michigan, um violinista e virtuoso da lap-steel avançado de idade, um teclista meio-hipster meio Felix Da Housecat e um guitarrista/percussionista parecido com Bobby Gillespie dos Primal Scream. 

Não nos desviemos porque se há dimensão pouco enfâtica no concerto é precisamente a da imagem num sentido «hollywoodesco». O manto de luzes que cobria o palco era apenas o mínimo indispensável para suportar aquilo que move Jack White na sua missão de conserva do rock - e se há músico empenhado nessa causa, mais do que noutra qualquer é ele. Essa paixão melómana esteve toda em palco e é traduzida em adrenalina, ruído e paixão. A resposta foi veículada em entusiasmo com o resgatar de um comportamento que se foi perdendo ao longo dos anos à medida que o rock foi sendo invadido pela classe média alta dominante: o velhinho mosh que levou alguns pré-adultos a saltar as grades.

Jack White recordou-nos que a música, só por si, é um factor de comunicação e que não é necessário elogiar as ruas de Lisboa ou as vistas aéreas da geografia lisboeta para conquistar o público. Arrancou em alta com «Dead Leaves and The Dirty Ground», dos White Stripes, e prolongou o estado de graça ruidoso com a brilhante «Sixteen Saltlines», ganhando imediatamente o público. E não mais o perdeu graças a um alinhamento sem oscilações entre os singles e as outras. 

Canções como «Hotel Yorba» e «We're Going To Be Friends» ganharam em matéria de resposta popular mas se há traço comum entre a obra de Jack White de há quinze anos para cá é a consistência. De resto, o menor fulgor registado entre o primeiro álbum dos Raconteurs - a sua última grande obra antes do belíssimo «Blunderbuss», a solo, não se nota em palco. 

Para o encore, ficaram guardados os doces. «Steady As She Goes» abriu o prolongamento numa versão mais noisy mas imparável. «Nitro», uma versão de Hank Williams, e «Bad Blood Blues» atalharam caminho para o final obrigatório com o hino «Seven Nation Army». Foi a estocada final num Coliseu a transpirar e a destilar entusiasmo. Como Feist ou Erykah Badu, Jack White soube encontrar o ponto de embraiagem de um bólide que acelera nas curvas e trava nas rectas. É por isso que uns são maratonistas e outros corredores de cem metros.

 

davidevasconcelos@gmail.com

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