Super Bock Super Rock, dia 3: Meco, sol e pouco rock
No último dia do Super Bock Super Rock, estiveram cerca de 25 mil pessoas mas quantas queriam ver Peter Gabriel? O que podia ter sido um concerto memorável, tornou-se um momento penoso.
O Super Bock Super Rock não correu bem. Escasso e desinteressado público, vazio de concertos memoráveis e um estado de espírito geral atípico para um momento que se quer de celebração. O contexto social pode não ser de festa mas se há papel que os festivais têm assumido é o do entretenimento, com os concertos como ponto de partida para uma partilha de emoções que, na idade adulta deste tipo de eventos, ultrapassa largamente a música.
Daí que um espectáculo que podia ser belíssimo num outro anfiteatro - por exemplo, no Cool Jazz Fest - se tenha transformado numa marcha penosa e profundamente descontextualizada num festival que tem como perfil «massas informadas». De experiências anteriores, já se sabia que músicos pré-geração de 80 não motivam os pais a sair de casa para ir ao festival dos filhos. Tinha sido assim no Optimus Alive em 2008 com Bob Dylan e Neil Young. Bruce Springsteen é de outra galáxia.
No caso de Peter Gabriel, o enriquecimento musical da New Blood Orchestra contribuiu ainda mais para o vexame de um concerto que só teve dimensão de palco e alguns (poucos) indefectíveis à frente. A abertura com «Heroes», de David Bowie, perante a passividade geral fez soar o alarme para um alinhamento que só aqueceu verdadeiramente num final em que se ouviram «Solsbury Hill», «Biko» e «Don´t Give Up».
Foi um monumental mas evitável erro de casting que reforçou a conclusão a tirar deste Super Bock Super Rock: em tempo de vacas magras, só um cartaz conciso como o do ano passado com Strokes, Portishead, Arctic Monkeys e Arcade Fire ou uma atracção irrecusável faz mover o público. Perante concorrência fortíssima vinda de Algés e a má imagem deixada pelo festival nos dois anos anteriores, o desinteresse ficou patente até no recinto. Ironicamente, no ano em que a organização melhorou a olhos vistos (menos pó, mais luz, ausência de trânsito e de filas na restauração), o exame mal chegou a começar. Ganhou-se em conforto aquilo que se perdeu em calor humano mas o saldo, do ponto de vista da emotividade, foi negativo.
Ao longo de todo o festival, houve sempre algum pormenor a falhar. Por exemplo, no terceiro dia Aloe Blacc tem deu um concerto empolgante, capaz de dosear canções de carácter expansivo como «Loving You Is Killing Me», a obrigatória «I Need A Dollar» e versões como «Be Thankful For What You´ve Got» mas porque razão tocou ainda com a luz do dia e uns Shins já fora de época ficaram com o prime time é um enigma que só as companhias aéreas provavelmente saberão responder.
Ou Skrillex com um live act poderosíssimo mas traído pela qualidade de som do palco EDP, o tal que ficou sem luz durante o concerto de Little Dragon, um problema que já dura de há vários festivais a esta parte e não apenas o SBSR. Mas é indiscutível que o único aglutinador de multidões da última noite foi o produtor de dubstep virulento, o que não surpreende porque se trata de alguém que toca nos corações do festivaleiro típico.
Pode não se gostar dos beats gordos e duros cheios de wubs mas Skrillex tem uma noção de dinâmica muito apurada, à qual é acrescentada uma dimensão visual com jogos de luzes e vídeo-arte do melhor que se conhece no panorama superstar DJ. Mas no palco «secundário», é impossível esquecer o crowdsurfing de St. Vincent e a candura de Regina Spektor, também convidada de Peter Gabriel.
por: Davide Pinheiro, Disco Digital