Uma grande ideia de Glanstonbury até Oeiras, Lionel Richie e a sua banda a desfilarem clássicos atrás de clássicos com prazer e dignidade. Nem faltou um final épico a recuperar a canção das canções de solidariedade, «We Are The World». Que noite, Lionel!
Um bem haja ao promotor que se lembrou de levar Lionel Richie ao palco da pirâmide de Glastonbury. O cantor aproveitou a oportunidade para protagonizar uma ressurreição artística que lhe valeu uma recepção eufórica no mítico festival inglês, os vídeos da actuação tornaram-se virais, em especial um em que se via até os seguranças em frente ao palco a entrarem numa coreografia durante «Dancing on the Ceiling»! Os ecos da inesperada consagração foram fortes e até levaram Lionel de volta ao topo de vendas de discos em Inglaterra, já não acontecia há 23 anos.
De repente poder ver Lionel Richie entre nós tornou-se uma dádiva improvável. O EDPcooljazz acertou em cheio ao escolhê-lo para a penúltima noite do festival, o povo respondeu ao apelo nostálgico e encheu o Estádio Municipal de Oeiras.
Todas as expectativas, mesmo a mais altas, foram rapidamente ultrapassadas com a presença de um cantor que traz para palco toda a pose de artista tipicamente norte americano. Uma personagem fortíssima própria dos casinos de Las Vegas, sempre bem disposto, sorriso fácil a mostrar que se está a divertir tanto ou mais que nós, comunicação eficaz com a plateia, preocupação em não deixar ninguém sentado, e um desfile sem hesitações dos seus maiores êxitos.
Divertido intercalou as canções com um discurso sempre engraçado, andou a namorar um copo que nos pareceu conter vinho rosé. Das primeiras tentativas bebeu mas mostrou-se sempre pouco convencido com o sabor até que chegou o momento em que mandou abaixo um copo cheio de um só fôlego. Antes já tinha dito que era melhor não abusar senão ainda ficava a ver como o amigo Stevie Wonder, recorrendo mesmo à imitação com acordes a condizer e tudo.
Quando recuperou «Endless Love», dueto de 1981 com Diana Ross, anunciou a presença da cantora como grande surpresa da noite. Perante a reacção entusiástica da plateia explicou que convidou mas ela não aceitou por causa do calor. Nem de propósito, numa altura em que chuviscou em Oeiras. A plateia fez convictamente de Diana.
Quando pensamos em Lionel Richie pensamos logo em meia dúzia de sucessos à escala planetária. Recordamos o disco de 1983 «Can't Slow Down» ou «Dancing on the Ceiling» de 1986. Recebemos sem resistência «Stuck on You», «Penny Lover», «All Night Long», e , claro, o inevitável «Hello». Lembramo-nos das festas de liceu, dos jogos no ZX Spectrum a ouvir estes e outros temas, da colecção de latas da Pepsi com a cara de Lionel e um desenho diferente para cada uma das faixas de «Can't Slow Down» e sorrimos ao ver o ambiente familiar em todo os estádio.
Gerações que não conseguem esconder a satisfação a cada nova canção recuperada do baú dos Commodores, por exemplo. Ou quando se ouve «Say You Say Me», ou quando toda a gente sente uma vontade incrível de dançar ao som de «Dancing on the Ceiling». Tantas emoções recuperadas em catadupa que chegaram a gerar confusão na cabeça de um espectador mais novo que ao reconhecer «Easy» perguntou à mãe se a música não era dos Faith No More. Por acaso, achamos que Mike Patton aprovaria o arranjo final desta versão ao vivo mais ao jeito tropical dos seus Mr Bungle.
Lionel Richie está com 66 anos e na última noite da digressão europeia mostrou uma frescura invejável, é um mestre de cerimónias à antiga e radia uma felicidade contagiante com este ressurgimento. É merecido, as suas canções são intemporais e estão aí para ser descobertas por muitas mais gerações.
Um encontro muito feliz entre o público português e Lionel Richie selado com um final inesquecível. Disse que à boleia da música do seu amigo Michael Jackson, que se ouviu antes e depois do concerto, ia recuperar um tema universal. Atacou «We Are The World» com propósito e nem faltou o blazer branco!
Se é para reviver os anos 80 que seja à séria e com noites destas. Longa vida ao Rei Lionel!
Casa cheia no Estádio Municipal de Oeiras para o regresso de Mark Knopfler a Portugal em mais uma etapa do Festival EDPCoolJazz. Apesar de trazer um disco novo, o concerto foi bem distribuído pelos discos mais recentes a solo, ficando a segunda metade reservada para passagens gloriosas por alguns dos maiores hinos dos Dire Straits.
Depois de ter passado por Alvalade e Faro com os Dire Straits, Knopfler já visitou o Porto, Cascais, duas vezes o Pavilhão Atlântico e duas vezes o Campo Pequeno. O regresso foi em Oeiras onde deu o seu concerto em nome próprio com alinhamento mais equilibrado e bem conseguido. Visivelmente bem disposto, muito comunicativo e seguro que as escolhas musicais para esta digressão não desiludem nem fãs nem nostálgicos ocasionais.
Apesar de ter editado um novo disco recentemente, Mark já assinou mais discos a solo do que com os Dire Straits, o concerto não é focado em temas novos. A primeira metade da noite é dedicada a três canções de cada um dos seus dois últimos álbuns.
«Broken Bones» de «Tracker» abre da melhor maneira o alinhamento que segue com três músicas do penúltimo disco, o duplo «Privateering». «Corned Beef City», «Privateering» e «Hill Farmer's Blues». Uma sequência que mostra a excelência dos músicos que acompanham Mark, uma viagem por sons tão próximos do blues, folk e country como dos ambientes celtas pontuados por flautas ou gaitas de foles e violinos. Depois, volta a «Tracker» para tocar «Skydiver», onde mostrou empenho em ter a plateia a cantar consigo. Nunca tínhamos visto Knopfler tão orgulhoso de uma composição nova como esta noite. «Laughs and Jokes and Drinks and Smokes» fechou a viagem pelos dois registos mais recentes. Pelo meio não passou despercebida uma visita ao baú, uma maravilhosa recuperação instrumental de «Father and Son» recuperada da banda sonora de Cal de 1984.
Tempo para deliciar os fãs com arranque imediato para «Romeo and Juliet» e a sua guitarra prateada a luzir. Sem pausas e já com a guitarra vermelha e branca a terminar esta primeira passagem pelos Dire Straits, ataque ao hino «Sultans of Swing». Telemóveis ao alto, cabeças em baixo e algum air guitar para acompanhar o tema que deve ser um dos grandes responsáveis por Knopfler continuar a encher estádios em 2015.
O acompanhamento vocal do público às notas de saxofone em «Your Latest Trick» comprova o acerto da escolha do tema do célebre disco «Brothers in Arms».
Com o público conquistado, Mark Knopfler partia para as últimas três canções antes do encore. Promoveu duas músicas de discos a solo mais antigos que há muito pediam para figurar entre os grandes clássicos do guitarrista. «Postcards From Paraguay», do disco «Shangri-La», tem como introdução lenta a apresentação individual da banda. Em crescendo arranca para uma festa tropical instrumental própria de uma noite de verão.
Segue-se «Speedway at Nazareth», de «Sailing to Philadelfia», uma cavalgada instrumental poderosa que fica mesmo a pedir a entrada do épico «Telegraph Road», digno de fechar o alinhamento em grande estilo.
O encore foi mais um rebuçado para o nostálgicos, «So Far Away» em versão monocórdica e um final instrumental com o grandioso «Going Home: Theme From Local Hero».
Não houve «Brothers in Arms», nem «What it Is», presenças habituais em alinhamentos anteriores mas ficámos a ganhar com a interpretação de «Your Latest Trick» e «Telegraph Road» a soarem melhor que nunca. O mesmo já não podemos dizer de «Sultans of Swing» ou «So Far Away», por exemplo, a perderem pedalada com o passar do tempo, embora sempre dignas.
A caminho dos 66 anos, MarkKnopfler está impecável em palco e atingiu quase a perfeição na escolha equilibrada de um alinhamento onde se percebe que tem tantos clássicos a solo como aqueles que deixou nosDireStraits. Isto é proeza só ao alcance de alguns.
Os suecos Ghost, uma das bandas mais interessantes e carismáticas da cena metal actual, estreiam-se finalmente em Portugal, com concertos no Hard Club no Porto e no Paradise Garage em Lisboa, a 27 e 28 de Novembro, respectivamente. A digressão intitula-se “Back To The Future”.
Chegou ao fim a 17ª edição do Festival Músicas do Mundo de Sines com o tradicional fogo de artificio no Castelo e a noite mais longa do ano daquela cidade com uma multidão a dançar em frente ao palco da Praia Vasco da Gama até ao nascer do sol. Foi o ano mais concorrido em termos de público e com as apostas sonoras mais arrojadas de Porto Covo a Sines.
Foram mais de cem mil pessoas que passaram pelo FMM entre 17 de Julho e a madrugada de 26 de Julho. Números impressionantes que deixam a organização optimista para as próximas edições. Com tanta procura, os bilhetes vendidos garantem a manutenção da qualidade de um cartaz sempre inovador e manter o Festival longe das garras dos patrocínios de grandes marcas.
Mesmo assim a organização deve olhar com cuidado para o que se passa na última noite de concertos no Castelo, de longe a mais procurada, onde já é quase impossível seguir com atenção concertos mais intimistas, como foi o caso de Toumani e Sidiki Diabaté e suas koras. Na parte mais afastada do palco, perto dos bares, a concentração de público que não se interessa minimamente pelas propostas musicais e só ali vai para as selfies, beber uns copos e meter a conversa em dia, é deprimente e revoltante. São dores de crescimento, bem sabemos, mas a presença de um número já considerável de chapéus das marcas de bebida no recinto são um importante alerta para quem quer manter o FMM longe dessa feira de marcas vista nos maiores festivais do país.
Apesar das desvantagens que uma enchente sempre traz, as propostas musicais vencem sempre pela entrega da grande maioria dos festivaleiros que está ali para descobrir, ver ou rever e encher a alma.
Por falar em rever, uma nota importante deste último dia de Festival foi o reencontro proporcionado pela organização entre Salif Keita e Orlando Julius que já não se viam há 23 anos!
Se olharmos de uma forma geral para esta edição, podemos afirmar que a noite mais empolgante foi a de quinta feira quando o Castelo viveu uma sequência de concertos inesquecível. A banda que Damon Albarn descobriu no Mali, Songhoy Blues, arrasou confirmando a excelência do seu disco de estreia e a sua entrega em palco. Uma pena não terem sido eles a fechar o Castelo no sábado.
Ana Tijoux não acusou a responsabilidade de actuar a seguir e arrancou outro dos concertos marcantes desta edição, com o seu rap/ hip hop sul americano, a chilena aproveitou para ganhar muitos seguidores por cá.
A mistura feliz entre nigerianos e britânicos conhecida por Ibibio Sound Machine fez o resto da festa no dia 23 de Julho no Castelo, o mais forte musicalmente.
A noite de sexta foi menos concorrida que a última mas recebeu a proposta portuguesa deste ano para horário nobre em euforia. Capicua, já recuperada da mazela que vimos no NOS Alive, aproveitou para desfilar os sucessos de «Sereia Louca» e «Medusa» sem nenhuma dificuldade em conquistar a plateia.
Trabalho mais complicado para o indiano Niladri Kumar que antes e só com a sua sitar tinha de arrastar o encantamento das primeiras filas até lá atrás onde o desinteresse reinava. Já os belgas Flat Earth Society venceram por esmagamento no inicio da noite. Com enorme contingente instrumental em palco a cavalgar por experimentações jazz não deixavam ninguém indiferente ao forte som.
No fecho da penúltima noite apareceram os vencedores, Canzoniere Grecanico Salentino é o nome do colectivo italiano que pôs o castelo a dançar, dentro e fora das muralhas.
Voltando à última noite há que destacar o concerto dos Moriarty, um encontro entre norte americanos e franceses que navegam muito perto do blues, folk e country, sons facilmente identificados e por isso bem recebidos.
A cimeira entre pai e filho do clã Diabaté foi um dos pontos mais altos deste FMM, as duas koras proporcionaram momentos mágicos a Sines e nem faltou uma aula do maestro Toumani a explicar como é tão simples tocar o instrumento de 21 cordas. Vimos que sim apesar de sabermos que não é nada fácil. Encantador.
A ligação ao Mali continuou com a entrada de Salif Keita e a sua banda que arrancaram para um concerto bem festivo abrindo caminho para o afrobeat irresistível do nigeriano Orlando Julius com os britânicos The Heliocentrics que tinham a tarefa facilitada pelo momento do fogo de artificio logo nos primeiros minutos de actuação.
Numa edição que só teve como contratempo o cancelamento da presença de Ernst Reijseger, houve muitas propostas mais alternativas e fez-se sentir a falta da visita de projectos tuaregues. Destaque para a aposta em músicos lusófonos, como é tradicional neste festival. Janita Salomé, Elida Almeida, Dona Onete, passaram por Porto Covo, Ricardo Ribeiro, Aline Frazão, Bruno Pernadas, Blacksea Não Maya + DJ Marfox, animaram os palcos da praia e do castelo em Sines.
Mais de uma semana cheia de música que fez do eixo Porto Covo - Sines o centro das músicas do Mundo. O FMM Sines confirma-se como um dos melhores festivais do género a nível mundial e promete voltar para o ano com a mesma qualidade e ousadia.
Novo disco d'Os Irmãos Catita pronto para ser ouvido. O último lançamento dos Irmãos Catita, Mundo Catita , remonta a 2001. Manuel João Vieira tem-se dedicado aos seus outros projetos, como os Ena Pá 2000 e os Corações de Atum.