Vodafone Mexefest, Dia 1 : Franceses Conquistam Coliseu
O último festival do ano arrancou na Avenida da Liberdade em noite de frio suportável com nova disposição de salas, muita oferta musical e com várias aclamações públicas para contar. Destaque para Savages e Woodkid com triunfos diferentes no recém-chegado ao cardápio Coliseu dos Recreios que não deixou ninguém ficar à porta.
O conceito já não é novidade para ninguém e não necessita de explicação, o festival que começou por ser «Em Stock», entretanto conheceu novo nome e patrocinador, criou a tradição de transformar a Avenida da Liberdade numa festa cheia de opções musicais diferentes que marca o final do ano em termos de festivais. Desta vez uma semana mais cedo do que é habitual o Vodafone Mexefest voltou a atrair muito público que manteve as principais salas do evento quase sempre cheias.
Com cinco edições já realizadas é natural que se compare de ano para ano o cartaz e a logística. No rescaldo desta primeira noite há três conclusões que saltam à vista; o upgrade para a sala do Coliseu foi uma decisão acertada, a Avenida aparenta ter menos festivaleiros e não houve ainda um concerto inesquecível que se junte aos melhores de edições passadas.
O facto de não haver concertos no Teatro Tivoli esvazia aquele eixo com o Cinema São Jorge que costuma servir de centro de operações. Depois descendo a Avenida o tráfego passou a ser mais intenso pela esquerda e na rua de São José desfazendo aquele quadrado que se formava com as salas do Maxime ou Ritz do lado da Praça da Alegria. É esta a explicação para uma aparente menor adesão ao festival. Mas é mesmo só aparente porque a enchente no Coliseu por alturas do concerto de Woodkid prova bem o contrário.
Os vencedores da noite aos olhos do público foram franceses. A gaulesa Jehnny Beth liderou as companheiras londrinas naquele que foi o melhor concerto da noite, como era esperado, e Yoann Lemoine teve uma recepção incrível por parte de um público que encheu o Coliseu e acarinhou o projecto Woodkid calorosamente e de forma algo surpreendente até mesmo para os músicos.
O concerto de Woodkid foi de tal maneira bem sucedido que não deve tardar um regresso em nome próprio. O jogo de luzes, o videowall como cenário, a percussão e os sopros, um ambiente simples a preto e branco , tudo isto contribuiu para uma reacção eufórica de um público que elege «The Golden Age» como um dos melhores discos do ano. Musicalmente a fórmula nem é entusiasmante, as canções repetem os truques, há momentos aborrecidos que depois são compensados com escaladas sonoras que acabam em alta rotação dançante. O público adorou.
Já as Savages cumpriram o que se esperava, fazem render o disco «Silence Yourself» com a sua atitude agressiva pós-punk explosiva mas ficaram longe da actuação que assinaram no Primavera Sound no Porto.
Também os Wavves já brilharam no Parque da Cidade do Porto e agora beneficiaram do fim do concerto das Savages para terem uma generosa plateia no castiço espaço de pavilhão desportivo da Sala do Ateneu Comercial de Lisboa. Rock em jeito de festa de liceu em fim de período, regresso feliz de Nathan Williams ao evento e ao nosso país.
Desta primeira noite ficam também outros concertos bem conseguidos e acolhidos. Márcia a defender bem no palco do São Jorge um dos melhores discos editados por cá este ano e com a ajuda de Samuel Úria em alguns temas ficando para o dueto com António Zambujo na canção «A Pele Que Há Em Mim» um dos melhores momentos da noite, enquanto o parceiro original, JP Simões, cumpriu bem a sua chamada de última hora para render os John Wizards na Estação do Rossio.
Um John que não faltou à chamada, o Grant, arrebatou a sala maior do Cinema São Jorge com um concerto de uma hora onde se mostrou em grande forma e com pena de não tocar mais tempo. Depois daquele final com uma poderosa versão de «Queen of Denmark» pedia-se mais.
Entre várias propostas a determinado ponto da noite arriscámos a visita à Casa do Alentejo em busca de ritmos quentes a contrastar com o frio da rua e encontrámos o irresistível balanço cubano dos Combo Nuevo Los Malditos que prendeu todos os curiosos que por ali passavam. Festa de arromba com dança e suor até ao fim. Mais tarde aconteceu ali o concerto mais feliz e cativante da noite, os argentinos La Yegros não quiseram saber de tendências hipsters que rodeavam a sala e apresentaram o excelente disco «Viene de Mi» de forma festiva. Conduzidos por Mariana Yegros, a banda mostrou que pode fazer maravilhas em festivais de verão dedicados a músicas do mundo. Quem teve a sorte de por ali passar aquela hora não os esquecerá.