Super Bock Super Rock 2017: Na Nova Expo, Agora a Mascote é Slow J
O Super Rock Super Bock viveu a sua 23ª edição no 3º ano de vida no Parque das Nações. Um dos festivais mais antigos do país tem a sua história feita de mudanças, riscos e desafios. Começou à beira Tejo, na zona de Alcântara, mais tarde passou pela zona da outra ponte sobre o Tejo, chegou a sair de Lisboa, tentou fixar-se no Meco e acabou a dinamizar uma área simbólica da famosa Expo'98.
Podemos mesmo dizer que o festival acaba por reavivar o espírito da Expo, à sua maneira, claro está, durante estes três dias de música entre a FIL e o Oceanário de Lisboa.
Se a localização tem sido um constante desafio, a programação tem sido uma dor de cabeça. Uma boa dor de cabeça, entenda-se. É preciso acompanhar as novas tendências, saber o que pode arrastar público, onde estão as bandas que vão ter sucesso em breve e saber divulgar a música nacional.
O Super Bock Super Rock, versão Parque das nações, acertou desde logo no palco menos espaçoso, aquele que é dedicado aos artistas portugueses que estão nos primeiros passos. Primeiro com a Antena3, agora com a rádio da casa, a SBSR.FM. Aí não tem sido complicado arranjar nove nomes por ano para mostrarem o que valem. Prova disso são as promoções de Capitão Fausto e, especialmente, Slow J. Os primeiros tiveram a honra de tocar no palco maior antes dos mais aclamados do evento, os Red Hot Chili Peppers. O segundo é um caso à parte. Destaque para o rock dos Stone Dead que ganhou muitos seguidores ali, tal como Manuel Fúria e os Náufragos e os Throes + The Shine, todos souberam aproveitar ao máximo as oportunidades.
Slow J é a medalha mais valiosa que o este novo formato do SBSR tem para mostrar. Fruto de uma aposta forte na música nacional, o festival promoveu o rapper português do palco mais pequeno para o Palco EDP e já anunciou a sua chegada ao Palco Super Bock do MEO Arena no próximo ano.
Nada a dizer quanto ao aproveitamento do talento nacional. Também não há muito por criticar no Palco EDP, o tal que recebe a plateia debaixo da icónica pala do Pavilhão de Portugal. Um cartaz sempre agradável, com nomes relevantes, algumas surpresas, propostas menos óbvias ou mais alternativas e indies, como preferirem. Tem acabado por dar bons frutos, este palco, que ora projecta nomes para o Vodafone Mexefest, por exemplo, ora os vai resgatar em bom tempo, como aconteceu com Silva, por exemplo. O Palco LG mistura propostas de música lusófona, uns com mais sucesso do que outros, obviamente. A passagem de Seu Jorge era boa no papel, foi aborrecida na prática. A presença dos Boogarins foi uma aposta bem ganha. Fez-se história com o projecto Língua Franca ao vivo, The Legendary Tigerman marcou o momento com a apresentação do seu novo trabalho e até Bruno Pernadas encantou ao fim da tarde.
Em sentido contrário estiveram os The Gift que tiveram que suar por manter um reduzida plateia e tentar aumentá-la de forma inesperada. O novo disco não chegou para captar a atenção dos festivaleiros que ignoraram a banda de Sónia Tavares de forma surpreendente.
Isto leva-nos à discussão mais delicada do actual Super Rock Super Bock. Os outros dois espaços estão bem resolvidos, o grande dilema mantém-se no MEO Arena, um espaço grande que precisa de nomes atraentes para não ficar com um ar desolador para quem toca e para quem vê.
E depois saber por onde quer ir o festival. No primeiro ano desta nova vida, o mote foi dado com a presença de Sting. Ficou provado que com um nome maior do pop/rock mundial faz-se, pelo menos, um dia em termos de bilheteira. Este ano a fórmula foi comprovado com os Red hot Chili Peppers, que deram um bleo concerto, diga-se. E até com os Deftones que, ainda, conseguem arrastar uma dedicada multidão em número considerável, assinando também um excelente concerto.
Junte-se aquele dia inesquecível do ano passado em que Kendrick Lamar levou à loucura um MEO Arena esgotado e, aparentemente, tínhamos uma fórmula vencedoras. Ou seja, um dia dedicado ao universo hip hop com um nome da primeira linha a fechar o cartaz e duas bandas de reputação insuspeita para os outros dias.
Funcionou bem com os Red Hot Chili Peppers, funcionou de maneira aceitável com Deftones mas sentiu-se a falta de um cartaz mais equilibrado no MEO Arena. E a aposta no Hip Hop pedia uma continuação em vez de um tiro no escuro, como foi o caso de Future. A sequência lógica a Lamar seria um Drake, por exemplo. Já nem vamos para Kanye West ou Jay-Z, que financeiramente não são alcançáveis para estes orçamentos. Mesmo o Drake já faz parte de um pote de Champions League musical, em termos de cachet.
Future podia ser aposta certa, tem hits à escala mundial e discos apreendidos pelas novas gerações, basta recordar as batidas de "Mask Off" para ver que não estamos a exagerar aqui. Mas ao vivo aquilo foi tudo o que o festival não precisava, foi o concerto de Kendrick Lamar mas ao contrário. E nem estou a dizer que foi bom ou mau, aí concordo com o Rui Miguel Abreu, nem dá para entender muito bem o que aconteceu ali.
Esperava-se mais porque o SBSR deu-nos a luz há um ano com Kendrick. Este ano podemos agradecer o superior concerto dos London Grammar que ficam a pedir nova convocatória em nome próprio.
Os Foster the People fizeram prova de vida e sabem que nunca mais farão outro "Pumped Up Kicks", a The Power Generation toca muito bem aquelas músicas de Prince mas nem Bilal nem Ana Moura nos conseguem perder a ansiedade de o ver entrar em palco a qualquer momento. Kevin Morby e James Vincent McMorrow, Jessei Reyez, The Orwells e Tom Barman, têm todos um lugar no nosso coração, como alguns deles já sabiam.
A modalidade olímpica portuguesa de bater no som do MEO Arena não pode servir para tudo, os Deftones e o experiente DJ Fatboy Slim provaram que o som pode ter qualidade quando se tem profissionais que o saibam trabalhar. Não por acaso, tiveram a plateia cheia e rendida até ao fim.
Acabar a comparar este festival que leva cerca de 60 mil pessoas (tendo em conta a lotação do MEO Arena) em 3 dias com outro que só numa noite alberga mais de 50 mil festivaleiros é, no mínimo, desonesto intelectualmente. Ambos têm o seu lugar de destaque no topo do mediatismo da época de festivais. Ambos estão a cumprir os seus objectivos. São realidades diferentes.
O Super Bock Super Rock está à procura de se fixar numa zona que deu muitas alegrias ao portugueses e está à procura do formato de cartaz perfeito. A ideia está lá, o rumo parece correcto, só falta ser eficaz na elaboração do espaço a preencher pelas nove bandas anuais no Palco Super Bock, como expliquei atrás. Os outros dois palcos vão bem. Não esquecendo o Palco Carlsberg que recebe os mais resistentes madrugada dentro na Sala Tejo com propostas mais dançáveis. Aqui os portugueses continuam a dar cartas com a qualidade de Xinobi, Beatbombers ou Magazino e com a ajuda de gente boa internacional como os Tuxedo.
Para já, o festival é de Slow J. E isso já é bom.