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Grandes Sons

Um pouco de música todos os dias. Ao vivo, em vídeo, discos, singles, notícias, fotos. Tudo à volta do rock e derivados.

Grandes Sons

Bob Dylan & his band plus Mark Knopfler @ HMV Apollo Hammersmith, London

 

A minha juventude andou muito à volta do "Alchemy". O meu objectivo de vida a meio dos anos 80 era ir a Madrid ver o concerto da Brothers in Arms Tour. Sabia as letras de cor, imitava os solos no quarto de raquete de ténis na mão fazendo os sons com a voz. Os discos dos Dire Straits até ao "Alchemy" eram um dos meus bens preciosos. Mas tive que esperar pelo último álbum da banda para conseguir assistir a um concerto. Ou melhor ao primeiro concerto. Em Alvalade cumpriu-se um objectivo de vida, ver Dire Straits ao vivo numa noite inesquecível. Felizmente que no mesmo ano de 1992 recuperei tempo perdido e repeti a presença no concerto de Faro. E assim começava uma longa história de testemunhar concertos liderados por Mark Knopfler. Após o fim dos Dire Straits mantive a admiração por Knopfler e tenho acompanhado sempre a sua carreira a solo comprando todos os discos que tem feito. Gosto da maneira como fez a transição já anunciada em "On Every Street" para a folk/blues/country e naturalmente tenho estado presente nos concertos que tem dado em Lisboa nesta sua segunda vida. Em Cascais, no Pavilhão Atlântico duas vezes, no Campo Pequeno duas vezes. No total até este ano já tinha visto Knopfler a tocar sete vezes. A última até foi uma desilusão , apesar da brilhante interpretação de Telegraph Road que salvou essa noite, portanto a motivação de o voltar a ver brevemente até arrefeceu.

 

Só que de repente leio que o homem vai estar em Londres a fazer a primeira parte de um concerto de Bob Dylan! Vem logo à lembrança o disco "Slow Train Coming" de Dylan editado há mais de 30 anos onde Knopfler tocou guitarra e a produção que Mark fez no álbum "Infidels" de Bob Dylan em 1983. Havia grande probabilidade de ver as duas figuras a tocarem juntas no mesmo palco por isso levantou-se a possibilidade de um regresso a Londres para testemunhar este raro momento.

Dias de férias disponíveis, voos em conta, hotel acessível e a operação começou a ganhar forma. Compra online de bilhetes para o concerto e começava assim a aventura de passar uma noite na capital inglesa na companhia de Bob Dylan e Mark Knopfler.

Aproveita-se o fim de semana, comprei bilhetes para a última de três actuações que foi na segunda feira e ainda se aproveitou para no dia a seguir ir de combóio a Manchester ver o Benfica mas isso fica para outras paragens.

 

Foi a minha estreia a ver um concerto em Londres. A sala escolhida foi a bonita Apollo HMV em Hammersmith já na zona 2 do metro. Quando aqui se discute que os preços dos concertos em Lisboa são puxados fiquem a saber que em Londres este concerto tem como bilhete mais barato 65£ que dá para comprar um passe para um Festival por cá. E outros concertos que sondei andavam sempre na casa das 50£.

Os concertos por lá começam cedo, este arrancou às 19h30. O acesso à sala é fácil com as filas sempre a andarem bem e o papel recebido no mail na altura da compra serve como entrada sem nenhuma complicação, lê-se um código de barras e estamos dentro da sala. O hall é bonito mas a chegada à plateia (em pé) é arrepiante. Sei que acabo de entrar num local que recebeu 38 concertos em 21 noites no auge dos Beatles no fim dos anos 60, por onde passou Johnny Cash, onde actuaram grandes nomes do jazz no inicio da década de 60, onde os Dire Straits tocaram com Eric Clapton e podia estar aqui horas a referir as históricas actuações de David Bowie ou Metallica e discos ali gravados. É um local histórico que ia voltar a produzir história e desta vez eu estava ali para testemunhar.

O espaço da plateia em pé é amplo e a descer e tem aquelas barras horizontais que vai separando a multidão como se via nos estádios ingleses antigos. A plateia superior é imponente, lugares sentados com uma arquitectura clássica de onde se destacam os grandes cortinados vermelhos escuros nas paredes e no palco. A espera pelo concerto de Knopfler valeu para tirar o retrato visual a um espaço tão mítico. Vende-se cerveja com álcool dentro da sala mas paga-se bem, 4,25£ por uma pint Carlsberg!

 

O concerto de Knopfler andou perto daquilo que se viu em Lisboa no ano passado. A mesma formação em palco com 3 Dire Straits a tocarem juntos (contando com o líder) e um alinhamento mais curto mas que só contempla duas passagens pelos Straits; "Brothers in Arms" e "So Far Away" já no encore. O destaque vai para um tema inédito muito bom em estilo blues que poderá ser do próximo álbum. O mais impressionante é que costumamos ouvir que o público português é o melhor do mundo e que todos os artistas adoram aqui tocar mas o que eu vi em Londres deixou-me sem grandes dúvidas. No caso de Mark ele mostrou uma simpatia e um gozo muito maior nesta noite do que nas últimas passagens por Lisboa. A plateia sem ser eufórica sem recorrer às parolas palminhas a compasso consegue criar um excelente ambiente só reagindo mesmo no fim de cada música e percebe-se que estão a gostar muito sem serem histéricos. Afinal Mark Knopfler continua em grande forma e expressa alegria naquilo que faz, tocou sempre de pé e gosta de retribuir todo o carinho que recebe da plateia londrina.

 

Falemos de Bob Dylan. Na mesma altura que os Dire Straits vinham a Portugal houve um concerto do americano no desaparecido Pavilhão do Dramático de Cascais. Na altura desprezei o momento tal como já tinha feito com a visita dos Rolling Stones. Era tudo malta já velha e acabada que não me interessava ver. Hoje posso dizer que já vi 3 concertos dos Stones e gostava de repetir e que entretanto já tinha visto até este ano o senhor Dylan em Vilar de Mouros e no Alive e gostei de ambos apesar de mal ter visto a cara da lendária figura. Esperava que agora em Londres a postura não fosse muito diferente. Mas afinal descobri um Dylan que aos 70 anos mantém a sua imagem impecável de chapéu à cowboy e a portar-se como um autêntico frontman. Esboçando alguns sorrisos com as reacções entusiasmadas da sala, atrás das teclas ou sozinho com a harmónica, descobri mesmo um "novo" Dylan. Talvez o verdadeiro que conheço de leituras de artigos da Uncut ou Mojo.

E a surpresa maior foi perceber que "Leopard-Skin Pill-Box Hat" abre o alinhamento com a presença de Knopfler ao lado de Dylan. Arrepiante de tal maneira que arrastei a minha mulher para as primeiras filas!

Seguiu-se "It's All Over Now, Baby Blue" e "Things Have Changed" com Dylan a comandar e Knopfler a tocar tornando aquele palco em algo de mágico.

 

Depois ficou só a banda de Dylan mas o ritmo nunca baixou, sempre em ambiente muito bluesy foram desfilando canções que agitavam a muito grisalha plateia. Até que chega uma esmagadora versão de "Highway 61 Revisited". Que enorme momento!

E sem facilitar seguiram-se "Desolation Row", "Thunder On The Mountain", "Ballad Of A Thin Man", "All Along The Watchtower" e aquele que poderia ter sido o momento máximo da noite: "Like A Rolling Stone". Só não foi porque para o final ficou guardado o pedaço de história que me orgulho de apresentar: pela primeira vez nesta digressão Mark Knopfler entrou em palco para cantar com Bob Dylan. Até ali Mark só tinha tocado mas para finalizar esta série de concertos veio cantar ao lado de Bob "Forever Young". Título acertado e minutos históricos que assisti arrepiado. Felizmente que há o youtube para partilhar convosco um pouco disto que expliquei nesta crónica.

Longa vida ao Senhor Dylan e a Mark Knopfler!





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