Já o sol tinha nascido para brilhar no dia 27 de Julho quando a 16ª edição do Festival das Músicas do Mundo oferecia os últimos sons em plena Avenida da Praia Vasco da Gama para uma resistente multidão que dançou até ao fim com o duo Acid Arab.
Foto (c) Mário Pires / CMSines
A edição de 2014 do FMM foi revista, aumentada e devolveu o festival às ruas de Porto Covo no primeiro fim-de-semana com vários concertos gratuitos que marcaram o arranque da maratona de nove dias. Tudo começou no dia 18 de Julho com os indianos Jaipur Maharaja Brass Band, tendo os colombianos Cimarrón fechado em festa o ciclo no Largo de Porto Covo.
Desde 2ª feira, dia 21 Julho, a música passou para Sines. Primeiro no Pátio das Artes e Centro de Artes, depois no palco da Avenida da Praia e desde 3ª feira no local mais emblemático do evento, o Castelo de Sines. A organização manteve a política de não cobrar entrada no concerto de fim de tarde no Castelo, continuando o palco da Praia a ser completamente gratuito.
Foram cerca de meia centena de concertos que trouxeram até à costa alentejana projectos de partes tão diferentes do mundo como Coreia do Sul, Índia, Líbano, Irão, Polónia, Madagáscar ou Zimbabué, entre outros.
Destaque para a aposta em nomes portugueses que defenderem muito bem a nossa música, o guitarrista Custódio Castelo e a jovem fadista luso-francesa Shina, a abrir. Mais seis artistas portugueses passaram por Sines: Ai! (dia 21), Zé Perdigão (dia 22), Galandum Galundaina (24), Júlio Pereira (25), Gisela João e The Soaked Lamb (a 26). O concerto de Gisela João foi mesmo um dos melhores que vimos no Castelo, com o seu vestido branco ao vento a aquecer corações na plateia.
Houve mais lusofonia com o deslumbrante concerto dos são-tomenses Conjunto África Negra (vão repetir a dose em Lisboa no dia 31 Julho no B.Leza), o angolano Nástio Mosquito, a moçambicana Selma Uamusse e a cabo-verdiana Mó Kalamity que encantou o público da Avenida da Praia na penúltima madrugada do festival.
Houve momentos simbólicos com as passagens do Istiklal Trio e dos Balkan Beat Box, projectos com músicos israelitas que fizeram questão de apelar ao fim da guerra na Faixa de Gaza, sendo que os últimos foram apaziguadores ao verem uma bandeira palestina no meio da plateia.
Foi, aliás, com os Balkan Beat Box, projecto que liga israelitas e norte americanos, que o Castelo de Sines atingiu o auge da festa. Foi a eles que coube a honra de encerrar actividades no espaço mais emblemático com direito ao habitual fogo-de-artifício que deu o mote para um longo e agitado concerto sempre de batidas fortes e agitadas danças.
Outros destaques vão para Angélique Kidjo que regressou a Portugal após uma discreta passagem pelo Rock in Rio e que agora mostrou toda a força do funk do Benim e uma capacidade comunicativa emocionante, até passou por «Sodad» de Cesária Évora. Também de regresso a Portugal, os argentinos La Yegros voltaram a mostrar a força contagiante do seu disco «Viene de Mi». Da Colômbia descobrimos uns eléctricos Meridian Brothers com um concerto inesquecível no palco da Avenida da Praia.
Apesar de ainda se ouvirem djembés a tocarem em vários cantos de Sines a festa já terminou e deixa saudades. Com as obras, finalmente, acabadas na marginal de Sines e com o regresso à manga de Porto Covo, o FMM atinge um nível elevado de satisfação entre o público que espera, pelo menos, igual qualidade em 2015.
Na quarta-feira passada, 23 de julho, Jack White fez o maior concerto de sua carreira em Chicago. Maior mesmo: 33 músicas no alinhamento e quase duas horas e quarenta minutos de apresentação. Tipo Paul McCartney, quase um Bruce Springsteen.
O concerto teve canções de seus dois álbuns a solo, covers, estreias de canções ao vivo, músicas de outros projectos seus e um bis de 11 músicas!!! Aconteceu “Blue Orchid”, dos White Stripes, pela primeira vez em 7 anos. E ainda versões para canções de Jimi Hendrix, Bob Dylan e Robert Johnson.
A rádio WXRT, de Chicago, transmitiu na íntegra o show neste fim de semana. Obviamente, a gravação foi parar em sites como o YouTube. Mas a editora de White e a própria rádio norte-americana estão de olho e a retirar todos os links que aparecem.
Por enquanto ainda há este. Duas horas e meia passam num instante.
19h00: AI! (Portugal) @ Pátio das Artes 20h00: ASTRAKAN PROJECT (Bretanha – França) @ Pátio das Artes 22h00: COLIN STETSON (EUA / Canadá) @ Centro de Artes – Auditório * 23h30: MUDIYETT (Índia) @ Castelo (novo local)
Na Herdade do Cabeço da Flauta voltou a normalidade. Sem demasiado frio, nem chuva e bons concertos, foi assim o último dia do SBSR que viveu momentos de loucura no concerto dos Kasabian e aprovou diferentes estilos, do rock dos Kills ao fado deserdado dos Dead Combo, da festa dos Foals à lusofonia dos Batida. Belo final de festa no Meco.
Costuma dizer-se que depois da tempestade vem a bonança, no caso do SBSR veio a festança. Raras vezes vimos um grau de loucura tão elevado entre os festivaleiros no palco principal como aconteceu no concerto dos Kasabian. Comecemos por aí.
Ao quinto álbum os Kasabian partem em digressão mais confiantes que nunca, capazes de passar por todos os seus êxitos de forma equilibrada deixando sempre a multidão em ponto de ebulição também apresentam os temas do novo «43:18» de forma segura e com razões para isso ja que se trata de um disco bem conseguido. Entre o rock de estádio e as batidas de dança não há pontos mortos na actuação em crescendo. Tal como na última passagem por cá, em Paredes de Coura, citam Fatboy Slim para incendiar a plateia com «Praise You» rumo a uma recta final de alta intensidade que explode com «Fire», canção que ofereceram à Liga inglesa de futebol onde vão ver finalmente a sua equipa, Leicester, jogar. Mais motivados que nunca, Sergio Pizzorno e Tom Meighan lidam com naturalidade com o mosh, tochas acesas, enfim, uma plateia rendida. É assim que um palco principal de um grande festival deve terminar. Em grande.
O espaço principal do SBSR foi pródigo em bons concertos no último dia. Deixemos de parte o guitarrista dos The Strokes, Albert Hammond Jr., que teve uma passagem tão simpática quanto discreta, mesmo evocando os Buzzcocks.
Logo a abrir, num fim de tarde muito agradável, os portugueses Ladrões do Tempo de Zé Pedro conseguiram dignificar o nome de Lou Reed desfilando clássicos do músico e dos Velvet Underground com a ajuda de João Pedro Pais, Jorge Palma, Lena D'Água, entre outros. Homenagem oportuna, cativante e bem feita.
Mais tarde os The Kills repetiram a grande actuação do Alive de há dois anos, agora no Meco espalharam nervo e rock pregados por uma Alison «VV» Mosshart feita de uma fibra já rara de encontrar. Encantadora e agitadora, conduz com Jamie «Hotel» Hince uma viagem sem desvios pelos quatro discos editados, o último já de 2011. Altura para pedirmos um novo e um regresso a Portugal em nome próprio que já se justifica há muito.
Em Outubro os Foals já tinham mostrado o que valem actualmente ao vivo no Coliseu de Lisboa. Agora repetiram a receita mas de forma mais expansiva, Yannis Philippakis chegou a mergulhar para a plateia, e com um jogo de luzes poderoso a criar um ambiente para as canções de «Antidotes» e «Holy Fire» subirem a um nível de estádio. Foram recebido de braços abertos, aproveitaram a química e assinaram um belo concerto deixando via aberta para a loucura que se viu depois com os Kasabian.
No palco EDP o triunfo foi para os Dead Combo que atraíram uma impressionante multidão para celebrizar a original portugalidade saída daquelas cordas cada vez mais incisivas no desfile de canções erguidas por Tó Trips e Pedro Gonçalves nesta última década. De arromba.
Destaque ainda para o concerto dos Batida, o último do festival, na tenda da Antena3 cheia de festivaleiros ainda com energia para mais dança. Isso é a zona de acção dos Batida, agitar a dançar sons, ideias e frases de África. Aos já conhecidos e celebrados singles como «Bazuka» ou «Alegria» há novas criações a caminho, pela amostra o novo disco tem tudo para ser mais um passo certo.
Foi um final de festa empolgante no Meco depois de três dias de música em que se celebrou o 20º Super Rock Super Bock .
Depois de um arranque com uma noite fria mas cheia de bons concertos, o segundo dia no Meco ficou marcado por uma chuva forte que baralhou as contas à organização, aos artistas e, principalmente, ao público que teve de esperar pelas duas da manhã para ver Eddie Vedder.
Pelo palco principal tudo corria bem com a passagem do rock pop fofinho dos cults depois das 20h. A apresentação de «GoOutside» foi o momento mais celebrado e a dedicatória de «I Can Hardly Make You Mine» aos companheiros Sleigh Bells foi a melhor coisa que aconteceu aos últimos neste festival. Já lá vamos.
Depois o talento nacional invadiu o Meco. Legendary Tigerman preparou um espectáculo para a dimensão do maior palco do SBSR, trouxe convidados e alargou a base musical. Resultou tudo bem, o novo disco funciona ao vivo, é bem recebido pelo público, mesmo que a maioria estivesse ali para o último concerto da noite. Paulo Furtado foi surpreendido com a chegada de uma chuva que começou refrescante para se tornar forte ao ponto de afastar muitas pessoas em busca de abrigo. Felizmente, em frente ao palco ninguém arredou pé e Tigerman acelerou o ritmo tornando o concerto para o nível de inesquecível. Uma palavra para a presença de Alexd'Alva Teixeira, um vocalista em clara ascensão.
Entretanto no espaço do palco Antena3 já Capicua actuava para uma pequena multidão. O hip hop de Ana foi a melhor coisa que aconteceu no recinto em resposta à chuva. Grande presença em palco, boa comunicação com a plateia e a certeza que estão ali as melhores rimas debitadas da melhor maneira dentro do rap cantado em português. Enorme concerto que orgulhou os fãs e angariou outros tantos para a causa de Capicua.
A partir daqui é que começou a ficar mais complicado prever o resto da noite. A chuva fez estragos. A zona de restauração teve que ser fechada devido à queda de um ramo de um pinheiro que chegou a assustar quem ali trabalhava. O pior aconteceu no palco EDP que ficou alagado e teve que interromper o seu funcionamento criando um problema de cumprimento de horários.
Alheio a estas complicações Woodkid voltou a repetir a receita vencedora que vimos no Coliseu por alturas do último Vodafone Mexefest. A mesma loucura entre a plateia rendida e a mesma estranheza do nosso ponto de vista. Continuamos a não perceber o porquê de tamanha devoção mas registamos a empatia incrível entre artista e público português.
A partir do momento em que se soube que as Sleigh Bells passavam das 22h30 para o fim do concerto do Eddie Vedder começou a agitação. Primeiro no espaço do palco EDP onde a vocalista Alexis Krauss anunciou o adiamento do concerto perante o desagrado dos muitos presentes, depois um pouco por todo o recinto com os festivaleiros a perguntarem-se porque não havia música a acontecer em nenhum palco num festival destes e, finalmente, entre a multidão que aguardava no palco principal a entrada de Eddie Vedder à 1h da manhã. Ao serem informados que só haveria concerto depois de Cat Power terminar a sua actuação no palco secundário o povo reagiu com enormes assobiadelas e vaias.
O problema é que o vocalista dos Pearl Jam exige que durante o seu concerto os outros espaços estejam silenciados.
Assim tivemos um concerto de menos de uma hora de Cat Power que apesar da pressa deu para passar por boas canções do mais recente disco. Terminou a oferecer flores a uma plateia pouco convencida com o despachanço.
Já passava das 2h da manhã quando, finalmente, chega ao palco principal do Meco Eddie Vedder. Plateia obviamente rendida e Eddie visivelmente bem disposto com o regresso a Portugal.
Apesar das muitas t-shirts dos Pearl Jam este é um concerto bem diferente. O vocalista tem carisma mais do que suficiente para justificar a enorme romaria ao Meco mas a actuação tem que ser vista dentro das limitações minimalistas do universo da banda. É um concerto para espaços pequenos e fechados, Vedder só em Portugal é que acede actuar para tamanha plateia, o alinhamento é restrito às canções dos Pearl Jam que são da autoria de Vedder, aos dois discos solo e a versões dos seus ídolos. A clássica «Black» não faz parte dos seus alinhamentos a solo mas ontem foi entoada no Meco, resultou mal mas o público cantou na mesma. Nas versões surpreendeu convidando Paulo Furtado para o acompanhar em «Masters of War» de Bob Dylan. Não impressionou mas ficou o momento simbólico. Por falar em guerra, o momento mais significativo da noite foi quando tocou pela primeira vez «Imagine» de John Lennon em jeito de rescaldo da polémico em que se viu envolvido com os fãs israelitas que não gostaram das suas declarações anti-guerra. Se em Israel já não querem saber dos Pearl Jam, em Portugal ninguém se importava de os ver novamente.
O concerto de Eddie Vedder alongou-se para lá das 4h da manhã e os seus fãs só deram conta dos estragos quando tiveram de encarar um trânsito caótico à saída do recinto. Vedder voltou duas vezes ao palco e saiu com largo sorriso. Foi uma madrugada para resistentes, compensadora para os admiradores do homem forte dos Pearl Jam, nada fácil para quem queria alternativas à música do palco principal.
Começou em grande estilo a 20ª edição do Super Bock Super Rock alojado no Meco desde 2010. Há muito para contar deste dia inaugural em que estiveram perto de 30 mil pessoas, números da organização, que assistiram a uma mão cheia de bons concertos, com os novatos Disclosure e os veteranos Massive Attack à cabeça.
Ao quinto ano de residência no Meco, o SBSR continua a esforçar-se para afastar a imagem de muito trânsito para um acesso a um recinto demasiado poeirento. O esforço é compensado com a ideia geral entre os festivaleiros que as condições melhoraram mesmo muito, não há caos nos acessos e o recinto está bem relvado em frente ao palco principal. Junte-se um cartaz bem interessante logo a abrir a maratona de concertos e só fica a faltar umas noites menos invernosas mas isso ninguém controla.
Comecemos pelo palco EDP num simpático canto logo à direita de quem entra no Festival. Fim de tarde perfeito com a presença do nosso bem conhecido Erlend Øye, o norueguês eternamente ligado aos Kings of Convenience, já com historial de respeito no que diz respeito a passgens por Portugal, inclusive já por aqui tinha passado há mais de uma década no formato Hype@Meco. A boa disposição do costume, a facilidade de comunicação e a música ligeiramente misturada do costume.
Os australianos The Cat Empire tiveram uma significativa recepção de um público pronto para dançar a sua mescla de ska, funk, reggae e afins retirados de uma discografia já longa com sete álbuns. Festa no areal.
O puto de 20 anos de Nottingham, Jake Bugg, continua o seu seguro caminho algures entre a clássica folk norte americana e britânica. Tal como no Alive no ano passado, Jake Bugg mostra que é precioso embaixador de canções dos dois discos já editados que sabem sempre bem ouvir ao vivo.
Já Noah Lennox não teve a mesma sorte com o número de espectadores devido à forte concorrência do palco principal mas não se deixou influenciar e montou a parafernália psicadélica habitual do alter-ego Panda Bear.
O palco principal abriu com uma agradável surpresa. Quem viu os Vintage Trouble ficou o resto da noite a passar a palavra aos amigos que vieram mais tarde elogiando o poder do blues rock dos californianos.
Muito bom o concerto dos Metronomy pela hora de jantar encantando uma plateia já muito bem composta com o desfilo de canções dos seus quatro discos com natural destaque para «The English Riviera» de 2011. Grandes momentos nas passagens por «I´m Aquarius» «The Upsetter» ou «Love Letters».
Depois o psicadelismo dentro de um rock controlado e demasiado pegado ao que conhecemos do registo de estúdio dos australianos Tame Impala que já no Alive de há um ano nos tinham deixado a ideia de serem mais um delírio pessoal de Kevin Parker do que uma banda coesa e com vida própria em palco. Como os discos são bons, o concerto não pode ser mau. Só peca por ser demasiado previsível.
Fizemos contas e este foi o 15º concerto dos Massive Attack em Portugal, testemunhámos agora o décimo e o maior elogio que podemos fazer é que nunca lhes vimos um concerto mau. Depois de uma ausência de quatro anos por terras portuguesas vieram até ao Meco erguer um dos grandes concertos desta edição do SBSR.
Robert Del Naja «3D» e Daddy G, que vimos a passear descontraído pelo recinto de garrafa de cerveja na mão antes de subir ao palco, lideraram uma viagem pelos clássicos com paragens surpreendentes em novas músicas de um disco a editar em breve. O ambiente tenso, narcótico, intenso e hipnótico dos Massive Attack sempre reforçado por fortes mensagens políticas, sociais e desportivas escritas no cenário do palco. Os habituais reforços vocais de Horace Andy e Martina Topley-Bird elevam a experiência para o nível de excelência. Mais um grande concerto, venha o novo disco.
A aposta nos irmãos Lawrence para encerrar a primeira noite foi absolutamente acertada, muitos fãs na linha da frente prontos para dançar e celebrar o óptimo «Settle», disco de estreia dos Disclosure. Do palco «terciário» do Alive para figuras principais do SBSR, os ingleses souberam crescer e dimensionar o seu espectáculo que é bem orgânico e convincente mesmo em grande palcos. Único senão foi a falha de som que levou à interrupção abrupta do single «White Noise». Uma contrariedade que cortou o ritmo e nos fez sentir que a noite sem aquela música estava mesmo fria e desagradável. Mérito para os Disclosure que voltaram à carga e levaram o seu alinhamento até ao fim com o mesmo entusiasmo. Grande fim de noite. Grande primeiro dia de SBSR.